segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Poema do Artesão


Minha poesia é inglória, vive em bancas incertas.

Do pódio e das vitórias, traduz histórias discretas.

Nos dizeres, incontida, minha poesia é de lua, às vezes, reza vestida às vezes, discursa nua.

Meu poema é artesanato.

E sai-me pronto das mãos.

Coso-o, com muito cuidado, cirzo-o, sem distração.

Às vezes, vem das sucatas de contas e velhos botões, de renda e fitas baratas, da fieira dos piões.

Que ressona atrás da porta, tem os pêlos de um cão, no final das linhas tortas traz pena, paina, algodão.

Tem cores das violetas, pose de pedra-sabão.

Nas asas da borboleta, nem coloca os pés no chão.

O poema-artesanato traz ponto-cruz, bordaduras.

É sempre um simples retrato de uma notória figura.

Maria da Graça Almeida